terça-feira, 4 de outubro de 2016



      No poema acima o poeta reflete sobre quem ele é. Você já se fez esta pergunta: Quem eu sou? A forma como nos percebemos diante do mundo e dos outros formam o que chamamos de identidade. No poema que abre esta aula, percebemos que o sujeito que reflete sobre si percebe-se de diversas formas em diferentes momentos: “o meu queridinho”, “moleque malcriado”, rei, herói, jogador e conclui ser, simplesmente, menino. Nesta aula veremos que a forma como nos vestimos, falamos, sentimos e agimos em diferentes situações dizem sobre nossa identidade, ou seja, dizem sobre quem nós somos.

     As decisões cotidianas como o que vestir e como se comportar expressa também quem somos, ou seja, nossa identidade. Mas será que já nascemos com uma identidade? O sociólogo Zygmunt Baumam nos explica que a ideia de quem nós somos não é característica com a qual tenhamos nascido. Esta identidade é adquirida ao longo do tempo principalmente nas relações que estabelecemos com os outros. É por meio da interação com nossos parentes, amigos, vizinhos, colegas de trabalho que vamos construindo nossa identidade e nos percebendo como diferente ou semelhante aos outros.

    Para a Sociologia, o ambiente social e cultural em que vivemos modela nossa identidade. A escolha de que roupa usar ou como se comportar é sim uma decisão individual, quer dizer, o indivíduo tem um papel fundamental nestas escolhas, porém o grupo nos quais interagimos no nosso cotidiano também influenciam fortemente em quem nós somos, ou seja, na nossa identidade. Assim, nossas decisões cotidianas sofrem influência dos grupos aos quais pertencemos como a família, nosso grupo religioso, do futebol, nosso grupo de amigos.

 Vamos compreender melhor a formação da identidade, isto é, o que pensamos e sobre quem somos?


Para realizar esta atividade, siga as seguintes etapas:

1) Forme um grupo com mais 4 (quatro) ou 5 (cinco) colegas.
2) Escrevam algumas características dos membros do grupo como sexo, idade, bairro em que moram, religião e música de que gostam.

3) Agora respondam as seguintes questões:
a) Os membros apresentam características semelhantes? Quais?

b) Na opinião do grupo, as afinidades de sexo, amizade, religião, bairro, gosto musical influenciaram na formação dos grupos? Tais afinidades faz com que com que vocês se identifiquem mais com um colega do que com outros?

c) A família, a religião, os amigos, ou seja, os grupos aos quais pertencemos influenciam a formação da nossa identidade. Discuta com o grupo e explique esta afirmativa.



     Olhe para os seus colegas de turma e responda: O que te faz diferente deles? 

   Caso você seja mulher e tenha olhado para um colega do sexo masculino, notou que uma das diferenças é o sexo, ou então viu que a diferença está no modo de usar o cabelo, na forma de falar, no tom da pele, no bairro onde moram... Enfim, todos nós temos marcas que nos diferenciam dos outros. Mas, ser diferente nos faz desiguais? Vamos refletir um pouco sobre como em nossa sociedade estas marcas de diferença se relacionam com o processo de construção de desigualdades.
   Quando nas relações sociais estas marcas que nos diferenciam uns dos outros produzem injustiças e desigualdades socialmente construídas, as chamamos de marcadores sociais da diferença. Você deve estar se perguntando: como construímos socialmente esta desigualdade baseada em marcas de diferença como gênero, classe social ou raça? Percebemos que em nossa sociedade em vários momentos há certa dificuldade em conviver com as diferenças. O preconceito é uma manifestação dessa dificuldade, quando, por exemplo, discriminamos o outro por ser diferente de mim. Assim, infelizmente, assistimos frequentemente no noticiário da TV casos de violência contra homossexuais, violência contra a mulher, e manifestações de racismo contra negros ou nordestinos.


     Pensemos na cor da pele como um marcador social da diferença. Sabemos que o racismo e o preconceito contra os negros ainda persiste em nossa sociedade. Um dos exemplos da manifestação deste racismo é a desigualdade entre negros e brancos quando, de acordo com pesquisas, vemos que negros (a soma de pretos e pardos) têm menores graus de escolaridade, logo, têm ocupações no mercado de trabalho com salários menores. Este é o resultado de um longo processo sócio-histórico de exclusão social.

      Na nossa sociedade também há desigualdades de gêneros que faz com as mulheres tenham salários menores que os homens no mercado de trabalho e sejam vítimas de violência doméstica, por exemplo. A desigualdade de gênero também é resultado de um longo processo sócio-histórico que sempre colocou as mulheres como o “sexo frágil” e como a principal responsável pelo cuidado com a casa e com os filhos. A divisão desigual do trabalho doméstico, por exemplo, dificulta um grande número de mulheres terem ocupações com salários maiores, esta dificuldade ainda é maior para as mulheres negras.

     Vamos refletir um pouco mais sobre este processo de construção das desigualdades?


Leia o seguinte trecho de um Decreto de 1854:

Decreto nº 1.331-A, de 17 de Fevereiro de 1854
Aprova o Regulamento para a reforma do ensino primário e secundário do Município da Côrte.
Art. 69. Não serão admitidos á matricula, nem poderão frequentar as escolas:
§ 1º Os meninos que padecerem moléstias contagiosas.
§ 2º Os que não tiverem sido vacinados.
§ 3º Os escravos.

Agora veja esta notícia do ano de 2013:

Seminário aponta persistência de desigualdades raciais no mercado de trabalho
Data: 30/04/2013

Ministra Luiza Bairros afirmou que o Brasil está pagando um preço caro por ter deixado os negros fora do processo de desenvolvimento
“Melhoram os salários, mas não diminuem as desigualdades porque temos dificuldades de implementar políticas para negros”. A conclusão é da professora doutora em Psicologia, Maria Aparecida da Silva Bento, palestrante da primeira mesa do Seminário “Trabalho e desenvolvimento: capacitação técnica, emprego e população negra”, realizado em Recife-PE, na última sexta-feira, 26/04.
A persistência das desigualdades entre homens e mulheres e entre trabalhadores negros e brancos deu a tônica do seminário promovido pela Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR) na capital pernambucana. Ao apresentar dados de 2011 da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), Jackeline Teixeira Natal disse que as mulheres negras representam o segmento com maior dificuldade de acessar ao mercado de trabalho no Brasil. De acordo com a técnica do DIEESE - Divisão Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos, quando a taxa de desemprego geral era de 12% a 13%, entre as mulheres negras esse indicador era de 18%.

    “De cada cinco mulheres negras no mercado, uma está no trabalho doméstico e o perfil dessa ocupação no Brasil acusa 56 horas semanais para as trabalhadoras com carteira assinada, uma carga bem superior a dos demais trabalhadores”, afirmou a técnica ao apresentar os dados da PED relativos à População em Idade Ativa (PIA), das regiões metropolitanas de Belo Horizonte, Distrito Federal, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Salvador, São Paulo.

     Para Jackeline, a remuneração reflete as relações de trabalho e “a prova disso é que em São Paulo, um dos mercados mais estruturados do país, a mulher negra ganha 40% em relação ao salário do homem branco e o homem negro 60%”. No que diz respeito à formação de nível superior, que conforme a pesquisadora facilita o acesso ao mercado de trabalho, os indicadores paulistas são de 24,4% para trabalhadores não negros e de 8,4 % para negros. Na região metropolitana da capital baiana, onde a presença de afrodescendentes é predominante, a diferença é mais significativa, sendo de 12,5% para os trabalhadores negros com nível superior e de 30% para não negros.

Refletindo sobre o Decreto de 1854 e a reportagem de 2013, responda:

Como podemos explicar a desigualdade de raça em nosso país?



      O que é ser brasileiro? Para responder a esta pergunta certamente você vai pensar no samba, na feijoada, no carnaval, no futebol, na nossa língua... Estas são manifestações da cultura brasileira que se tornaram símbolos da nossa identidade. Além da criação de símbolos, uma característica importante da identidade nacional é o imaginário social, ou seja, as ideias e imagens que socialmente criamos para dar identidade a um país e seu povo. Assim, um dos exemplos desse imaginário social é o verso da música de Jorge Bem Jor: “Moro num país tropical, abençoado por Deus”. O imaginário social construído foi de uma terra “bonita por natureza”, com muitas riquezas naturais, festas e belezas e, portanto, terra abençoada por Deus. Faz parte do imaginário social a ideia, por exemplo, do brasileiro como povo feliz, afetuoso e hospitaleiro. Esta imagem é inclusive mercadoria vendida aos turistas no exterior.
     O Brasil é marcado pela diversidade cultural que se manifesta nas diferentes tradições e costumes regionais, por exemplo. Porém, a construção da identidade nacional baseia-se em traços culturais, crenças e símbolos que oferecem uma identidade comum a um povo diverso.
    Essa identidade comum é socialmente produzida e reproduzida por meio da construção de símbolos, imagens e mitos que passam a fazer parte identificação do povo por meio de músicas, livros, meios de comunicação de massa e discursos políticos, por exemplo. Então, a nossa língua, nossos costumes, tradições, enfim, nossa cultura nacional é promovida de forma a desenvolver um sentimento de pertencimento, orgulho e unidade.
   Ao falar de identidade nacional também estamos falando da nossa herança cultural portuguesa, indígena e africana. Muitos pensadores brasileiros pesquisaram a fundo nossa herança cultural para conhecer nossa formação social e interpretar o Brasil. Gilberto Freyre, em 1933, escreveu um livro chamado Casa Grande&Senzala cuja principal contribuição para a construção da identidade nacional foi a ideia do Brasil como um país mestiço, produto da mistura das raças. O Brasil como o país da mestiçagem fez e faz parte do imaginário social. As ideias de Gilberto Freyre influenciaram a criação de mais um mito brasileiro: O mito da “democracia racial”. Este mito diz respeito à imagem do Brasil como um país sem preconceitos e separações, ao contrário, seria o país da convivência harmoniosa entre as raças.
    Muitos estudiosos criticam o mito da “democracia racial”. Para os críticos, o mito da “democracia racial” contribui para tornar menos evidentes conflitos e desigualdades sociais no Brasil.


Caro aluno, agora vamos refletir sobre o que acabamos de estudar?

1) Explique com suas palavras o que é identidade nacional. Em sua resposta cite exemplos de símbolos, mitos e do imaginário social brasileiro.


2) Leia a letra da música e abaixo responda: 
Qual imagem do Brasil é transmitida na música?

Brasileiro - Ivete Sangalo
Compositor: Duller/Fabio Alcântara/Augusto Conceição

Fim de semana, todo brasileiro gosta de fazer um som
Uma cerveja bem gelada
Violão de madrugada, samba e futebol
Eu trabalho o ano inteiro
De janeiro a janeiro e não me canso de plantar
Passa boi, passa boiada
Debruçada na janela, que vontade de cantar

Eu sou brasileiro Índio, mulato, branco e preto
Eu vou vivendo assim 
Eu sou batuqueiro (Cafuzo)

Ando de buzu precário, tão pequeno o meu salário
Na vitrine é tudo caro e assim mesmo quer sorrir 
Reza pra todos os santos São Vicente, São Jerônimo 
Vai atrás de um pai-de-santo pro barraco construir 

No domingo tem preguiça
Vou com fé, eu vou à missa 
E na segunda ao candomblé 
Ó, que linda criatura 
Não entendo essa mistura, com esse tal de silicone 
Ninguém sabe se é homem ou se é mulher 

Doze meses de agonia 
Chego na periferia com o presente de Natal (legal) 
Dou comida à molecada 
Mando brincar na calçada 
Tá na hora do jornal 

Falta rango, falta escola 
Falta tudo a toda hora 
Tá na hora de mudar (oh oh oh oh) 
Vivo com essa vida dura 
São milhões de criaturas 
Brasileiro sempre acha algum motivo pra comemorar